01: Deserto do Saara - Arredores da Cidade

"O deserto é quente durante o dia, mas gélido durante a noite. Como sou estúpida!", pensava Dena consigo mesma, enquanto encolhia-se da melhor maneira possível, tentando esconder-se do frio. Uma calça marrom escura, botas e uma blusa creme de mangas até os cotovelos eram seus trajes, e portanto, não era de se admirar que sentisse frio. Não gastava seu cosmo com coisas desnecessárias como esquentar o próprio corpo; só o fazia se houvesse muita necessidade disso.

De fato, o deserto apresenta temperatura muito baixa durante a noite, e por isso é tão difícil viver num local como aquele. Era até difícil se locomover ali, em verdade. A espectro caminhava devagar, seus pés afundando na areia fofa. As pernas pesavam, devido ao esforço, e o peso da urna às costas não ajudava muito. Estivera caminhando durante todo aquele dia, e por isso apresentava um rosto já bastante avermelhado. E agora, com a noite, caminhava no escuro, mas esse não chegava a ser um problema: espectros, de modo geral, estão habituados às trevas.

Veio parar naquele lugar, que não sabe qual é, de uma forma que desconhece. Imaginava que aquilo só poderia ser coisa de alguém com incrível capacidade de teletransporte: talvez um kyoto que tivesse tal habilidade ou até mesmo Hades. Como todos os espectros, ficara sabendo dos ataques de Ares e seus berserkers ao Submundo, mas não sabia muito mais do que isso. Estava perdida no meio da noite num deserto e nem tinha noção do que fazer.

De repente, uma luz.

- O que é...?

Algo com a intensidade do brilho do Sol, porém mais negro do que a noite do deserto, chama a atenção de Dena. A moça é inteligente, mas não precisava ser um gênio para saber que aquele era um cosmo maligno e, portanto, amigo. Teoricamente, é claro.

Sentindo-se confiante, se aproxima do local de onde vem as chamas. Chegando mais perto, contudo, percebe que aquele é o campo de batalha de uma luta, nos arredores de uma cidade bastante soturna - não haveria de ser diferente, tendo em vista todas as adversidades para a vida ali constatadas por Dena. Dois homens - o da chama e outro que Dena nem faz idéia de quem seja - parecem realmente estar a ponto de se matarem.

Contudo, há uma terceira pessoa, mais à parte daquela cena. O mestre de Dena já havia lhe falado sobre os três juízes do inferno, e era bastante fácil identificá-los, porque recebera instruções a respeito das súrplices que os kyotos vergavam. Aparentemente, aquela era Griffon.

Dena aproxima-se de Minos, tentando não chamar muito a atenção dos homens em contenda. Apesar de ser uma Espectro Supremo Celeste, devia certas reverências aos juízes, e não era de bom tom ignorá-los para assistir a uma batalha. Ou, ao menos, não era de bom tom fazer isso antes de cumprimentá-los.

- Minos de Griffon... Sou Dena de Alraune.

A moça faz então uma pequena reverência ao juiz. Não era necessário - ao menos ela o achava - dizer que era Tenmasei, pois, como kyoto, Minos deveria ter acesso a essas informações. Depois, voltando à sua posição altiva habitual, fica frente a frente com Griffon, esperando que ele lhe dissesse alguma coisa. Dena não é muito de conversar; esperava, portanto, que o juiz guiasse o assunto.

Dena percebe que Minos passa alguns segundos a observá-la. Estava acostumada a tais atitudes, mas realmente não esperava isso de um kyoto. Bom, ao menos significava que era bonita o suficiente para encantar os olhos mesmo daqueles que apreciam apenas trevas.

Minos de Griffon escreveu:

- Dena de Alraune, minha cara... sua força será muito apreciada nas próximas batalhas. Peço que me acompanhe até aquele oásis. Já que teremos que esperar aqui, talvez seja interessante conhecer melhor as proximidades desta cidade. Vamos ver se descobrimos algo... Tanto, venha conosco.

Dena escuta com atenção o juiz; sem dizer palavra sequer, contudo, apenas lança-lhe um aceno com a cabeça, com o intuito de afirmar que o acompanharia. Segue então ao lado de Minos, para o Oásis.